Ode Escolar


ODE ESCOLAR

Com o doloroso e estridente som do despertador acordo
Lento e desiludido abrir de olhos, típica má disposição habitual
Levanto-me e pergunto, qual a razão deste sufoco?
Apesar de no fundo saber que em toda a minha vida, isto é o que mais tenho de habitual

A passo de idoso, em direção à cozinha as escadas vou descendo
Após o primeiro passo, instantaneamente me arrependo
T-R-R-R-R-R, Z-Z-Z-Z-Z-Z, P-R-R-R-R-R
Ah, eletrodomésticos! Como eu vos odeio!
De cara trancada, coloco auriculares nos ouvidos, com receio que tanto barulho me vá deixar ainda mais desfeito
Naturalmente, a minha manhã começa finalmente a fluir
E, ironicamente, concluo que todo este sufoco é apenas uma preparação para o que ainda está para vir...

Chego à escola, já dez minutos atrasado,
Acelero o passo, com medo que o sumário já tenha sido passado
Abro a porta e nem ‘bom dia’ tenho chances de dizer
Só porque mais uma falta de pontualidade a professora diz que vou ter

Numa vontade insaciável de aprender, tento sorrateiramente entrar na dinâmica que já levava a aula
Citara-se um poema de Ricardo Reis, que como ninguém me acalma a alma
De súbito emerge-me uma ideia, à qual a lembrar só eu conseguiria 
Pois se todos seguíssemos o ideal epicurista da ataraxia
Com certeza aulas tão cedo ninguém teria!

Páginas são viradas, lápis são gastos, intelectos são estimulados
Ó ortónimo! Ó heterónimos! Ó recursos expressivos!
Ó gramática! Ó interpretação! Ó coesão!
Ah! Como tudo isto é tão belo, e o quanto eu o amo!
Escrevo ousadamente, cerrando tudo na minha memória e coração

Já a aula terminara, oitenta minutos de devoção e entusiasmo,
Como um simples gesto de simpatia, levanto-me e apago o quadro
A professora agradece, desejando-me o resto de umas boas aulas com na face um sorriso rasgado


Ah... Mal ela sabe que toda a minha energia já tinha drenado!



ZZZ