A Máscara


A Máscara

Vejo em mim uma máscara
Não para a cara esconder,
Mas para outras mais conter.

São como folhas numa árvore
Crescem sem já eu saber
Para ti tenho uma,
Para alguém tenho outra.

São tantas ao molho,
Que só d'umas tenho conta.
Às vezes não sei quem sou.
Às vezes sinto-me louca.

Vêm a tona quando querem
Numa fila secreta.
Umas vezes sou Picasso,
Outras um fracasso.

Sabem que desenho
Mas não sabem que escrevo
Talvez porque quando o faço
Sinto-me nua, sem agasalho.

Visto-me, escondo-me
Numa capa branca.
Enquanto debaixo dela
Tudo se desvanece

Muitos não sabem disto,
Porém, pensam saber.
Mas se nem eu sei,
Como irás tu saber?

Pensam ver-me de chapéu.
Capa de grilo
Cuja cauda chega aos pés
E um lacinho de marfim

Acham graça ao meu falar
Ao que digo, ao que penso,
E quando ando à pinguim,
Aí começa o espetáculo!

Dizem que sou contente,
Que me gostam de ver alegre.
Mas de que me serve realmente,
Veres-me tu assim?

Chego a casa,
E lá sai o chapéu.
Volto a pôr a máscara,
Volto a pôr o véu.

Perdi-me em quem sou.
Odeio- me em quem fui.
E agora quem serei,
Eu não sei, pergunta-te tu.

Tomás Brandão