SEMENTE

Virgem, solta, nasceu.
Em terra húmida se ergueu,
ao mesmo toque, na mesma sombra,
desse terraço ainda meu.
Outrora viajada, cresceu
por entre espinhos, por entre cortes,
ao relento, permaneceu.

Surgindo, sopro inconstante,
emergindo nessa brisa suave
desse mar que está parado.
Só, liberta,
caindo lágrimas geladas,
nutriente essencial
que fora fingimento fatal,
esse segredo guardado.

Envolvida, viril, escutou
murmúrios da alma
dispersos em calma
aos quais se entregou.
Na raiz se encontrou,
entre Ódio e Amor se quebrou,
esse fogo que nunca a queimou.

Foi ilusão, foi negação.
Despida de culpa, chorei.
Caiu a semente, essa paixão,
Que mataste,
Que enterrei!

Ana Filipa Gonçalves Cardoso, Nº 5 - 12ºE