NÃO ME MATES A INÊS, PAIZINHO

Morreste. Desde então passo horas a olhar para o etéreo, que balança.
Balança tanto como hesita.
Sou um barco que viaja num mar sem icebergs
E que ainda assim ondula mau agoiro

[600 tiros por minuto]



Paizinho, isto é para ti: o barco não vai ficar a meio
Foi o Zé quem disse. Roubei-lhe as palavras por ti; para ti.
Como é improrrogável tentar fugir de ti, do teu bafo de ordens medievais
Que me vão corroendo asperamente o intuito que herdei de ti



[600 tiros por minuto]



O coldre está na tua cintura há tanto tempo como os passos estão dados
Os padrinhos estão escolhidos. Já viramos costas.
Em santa clara já habitam abutres envoltos em véus da moda
Que sobrevoam dando gritos esquizofrénicos próprios de uma nota romântica.


[o eco é a forma de deus nos castigar duas vezes pelo mesmo acto]



Libertaste-me. Obrigado: eu amo-te, paizinho



Rita A., Nº21 - 11ºF


Nota: o título do poema é o único verso de uma canção de B fachada, cantor e poeta de rua português, de álbum 2008 mini cd: produzido por Walter Benjamin.